«Não existe um guião que dite como os homens sobreviventes de violência sexual têm de agir ou o que devem sentir durante e após o abuso. Cada caso é um caso, e o trauma de uma experiência desta natureza pode ter um impacto diferente de um sobrevivente para outro»
É comum que um homem que tenha sido abusado sexualmente se questione acerca do que lhe aconteceu. Muitos questionam-se, inclusive, sobre se deveriam ter feito algo que pudesse de alguma forma impedir o abuso ou mesmo se não foram de algum modo também eles responsáveis pelo que lhes aconteceu. Também é comum que os sobreviventes nos perguntem se o que sentem é normal, sentindo-se muitas vezes como se tivessem algo de errado.
É preciso reforçar que não há nada de errado com os homens sobreviventes. Estes homens passaram por uma experiência de violência sexual com consequências devastadoras para a sua vida e passaram anos a tentar processar sozinhos uma experiência confusa e traumática.
A verdade é que não existe um guião que dite como os homens sobreviventes de violência sexual têm de agir ou o que devem sentir durante e após o abuso. Cada caso é um caso, e o trauma de uma experiência desta natureza pode ter um impacto diferente de um sobrevivente para outro. No entanto, é fundamental haver uma compreensão da extensão das consequências que pode ter na vida destes homens. A maioria sente uma vergonha imensa e sentimentos de culpa que os paralisa durante anos e até mesmo décadas, o que os leva a sofrer em silêncio, sem nunca partilharem a sua história até com as pessoas mais próximas, e a não procurar o apoio de que necessitam. Muitos destes homens sentem-se sozinhos, isolados e sem saber o que pensar.
Quando há momentos mediáticos e espaços de discussão com troca de opiniões, é possível constatar a imensa desinformação sobre esta forma de violência. É comum que nesta troca de ideias se reforce a existência de um guião que dita a forma como estes homens têm de agir, e são espaços onde as reacções e os sobreviventes são atacados. Muitas pessoas não compreendem a complexidade da violência sexual, nem a forma como pode devastar a vida de um sobrevivente. Frases como “Se fosse comigo denunciava o abusador logo no mesmo dia”, “Uma vítima de abuso não se comportaria assim”, “Não acho normal que uma vítima fique tantos anos calada e só passados 20 anos é que se lembre do abuso”; “O que está a dizer não faz sentido para uma vítima verdadeira” são nocivas para qualquer sobrevivente que esteja a tentar processar o que lhe aconteceu e que tenha dúvidas sobre a sua história.
Este tipo de comentários mostra que há muita desinformação sobre violência sexual e como é perigosa, pois contribui para a culpabilização e responsabilização das vítimas, ajudando ainda na manutenção do longo silêncio dos sobreviventes.
É fulcral que, enquanto sociedade, consigamos criar as condições para que as vítimas possam partilhar as suas histórias sem receio de serem atacadas.
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