Quando se debate sobre violência sexual é comum observarmos que há quem associe esta forma de violência ao ato sexual, como se tratasse de uma mesma experiência. É importante clarificar que violência sexual, não é sexo, é crime e é também uma violação grave dos direitos humanos. Violência sexual é uma experiência traumática que pode ter consequências devastadoras na vida da vítima. Relações sexuais, por sua vez, é algo saudável, prazeroso e que é consentido entre as pessoas participantes.
Em que se distinguem?
Quando se fala de sexo, fala-se de uma relação consentida entre duas pessoas, em que não existe uma relação de poder de uma sobre a outra e ambas partilham das mesmas intenções e poder de decisão. É esperado que seja uma experiência prazerosa, da qual não resultam consequências negativas ou traumáticas.
Nos casos de violência sexual existe uma relação assimétrica em que uma das partes exerce poder sobre a outra e que também tem controlo sobre a situação. Nestes casos o consentimento da pessoa adulta ou a sua vontade não é respeitada. Importa referir que nenhuma criança pode dar o consentimento, e qualquer ato sexualizado entre um adulto e uma criança é violência sexual infantil, e o adulto é o único responsável.
É importante fazer esta distinção para não se desvalorize a experiência traumática e também para que não se contribua para a manutenção do silêncio das vítimas e para a cultura de manutenção das mesmas
Quando um caso de de violência sexual é interpretado como um encontro ou envolvimento sexual (por exemplo um jovem que se envolveu sexualmente com a professora, ou a rapariga que teve um caso amoroso com um homem 20 anos mais velho), está-se a desvalorizar o sofrimento da pessoa que experienciou por esse trauma e a promover o seu silêncio.
“Terá sido abuso?”
Ao longo da nossa experiência, de apoio especializado para homens vítimas de violência sexual, é comum ouvirmos sobreviventes que foram levados a acreditar de que se tratou de uma experiência sexual e não um ato de violência. Esta crença pode acontecer por diferentes razões, uma delas é desenvolvida como estratégia de sobrevivência do próprio sobrevivente, muitas vezes motivada pelas estratégias de manipulação por parte do abusador e reforçada pela desinformação que existe acerca deste tema. Como consequência, vários sobreviventes acabam por sentir que não devem procurar apoio e acabam por continuar a sofrer em silêncio.
Independentemente dos contornos, importa reforçar que violência sexual não é sexo, é crime e, independentemente dos sentimentos que possa experienciar, pode contar com o nosso apoio para ultrapassar as consequências de uma experiência traumática de violência sexual.
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