Por vezes, quando um homem que foi vítima de abuso sexual na infância confidencia a alguém sobre o abuso, nem sempre recebe a resposta mais reconfortante. Inadvertidamente, algumas pessoas enunciam as suas questões de tal modo que acabam por ignorar algo fundamental: na altura do abuso esse homem era apenas uma criança.
Criança vítima de abuso sexual
Essas pessoas analisam o evento do abuso sexual pelos olhos de um adulto, com um conhecimento mais completo, e não pelos olhos de uma criança; uma criança que muitas vezes:
- pode não ter consciência da situação do abuso sexual;
- pode não ter o vocabulário necessário para exprimir o que sente;
- tem receio de ser mal compreendida;
- tem medo de ser rejeitada por quem ama;
- pode estar imensamente confusa com toda a situação do abuso;
- pode ter medo que o abusador/abusadora lhe faça a mal ou à sua família;
- entre um conjunto de outros sentimentos confusos.
Perguntas como:
- por que é que não fizeste nada?
- por que não falaste com alguém?
- por que não tentaste impedir?
- não te apercebeste de que ele/ela te estava a fazer mal?
podem parecer inofensivas e naturais para quem ouve uma vítima de abuso sexual masculino, mas para o homem que passou por esse abuso podem ser dolorosas, confusas e desencadeadoras de sentimentos de injustiça – sendo importante reiterar que na altura do abuso esse homem era apenas uma criança.
Compreender o homem e a criança
Nestes casos, em que o abuso aconteceu na infância, reiterar a ideia de que todo o homem, antes de ser adulto, já foi criança, poderá ajudar a compreender o homem que passou, enquanto criança, por um trauma de abuso sexual. Quando se aceita que o conhecimento que a criança tinha na altura não é o mesmo conhecimento que o homem hoje tem, está a aceitar o homem que quebra o silêncio sem correr o risco de o julgar por algo que aconteceu na sua infância e sem correr o risco de o julgar por algo que o homem não teve culpa.