É comum que um sobrevivente de violência sexual esteja mais alerta para certas questões relacionadas com o abuso, nomeadamente estar atento à segurança das crianças que fazem parte da sua vida. Por ter sido vítima de violência sexual, é natural que se preocupe com a possibilidade de elas também poderem vir a ser abusadas. No entanto, quando este receio se torna demasiado presente e atinge níveis intrusivos, pode gerar sofrimento e mal-estar.
Um medo partilhado por diversos homens sobreviventes de violência sexual é o da possibilidade de virem a abusar ou de sentirem vontade de abusar de crianças. Ainda que infundado, este medo pode dificultar o seu relacionamento com os próprios filhos, sobrinhos, filhos de amigos e até crianças desconhecidas, gerando grande desconforto. O medo constante pode fazer com que se afaste das crianças e que, ao longo do tempo, o sobrevivente seja visto como uma pessoa mais desligada que não gosta de crianças.
Quando falamos do medo da possibilidade de abusar, importa sublinhar que não falamos de pedofilia, desejo ou de intenções de abusar sexualmente de crianças. Este é um receio que muitas vezes revela o próprio desconhecimento dos sobreviventes sobre a razão pela qual os abusadores abusam de crianças. Essa desinformação pode alimentar, ainda que erradamente, a crença de que possa haver um “interruptor” que a qualquer momento possa ser ligado e tornar o sobrevivente num abusador.
Por ter vivenciado uma ou várias situações de violência sexual ao longo da vida, é natural que este se torne um tema sensível para os sobreviventes e que por isso estejam mais alerta para tudo o que esteja relacionado com o assunto.
Quando estas questões são trazidas pelo sobrevivente durante o apoio psicológico, costumam estar associadas a sentimentos de culpa e até de nojo. A ideia de poderem vir a abusar de uma criança e provocar sofrimento de algum modo semelhante ao que sofreram provoca repulsa, o que ajuda a compreender que este medo é infundado e revela somente preocupação pelo bem-estar das crianças.
Se foi vítima de violência sexual e experiencia alguns destes receios, contacte-nos para ajudá-lo a organizar os seus pensamentos.
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