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14 de Fevereiro de 2022

Intimidade: como desenvolver relações depois do abuso sexual?

Muitas das vezes a violência sexual é cometida por alguém próximo e de confiança, o que pode gerar nas vítimas um sentimento constante de insegurança e dificuldade em confiar novamente nos outros. Assim, um relacionamento íntimo e próximo pode ser percecionado e sentido como algo perigoso e ameaçador, no qual o sobrevivente sente que não tem controlo e que pode ser magoado novamente. Construir uma relação de confiança implica estar vulnerável e exposto, tal como, o risco de ser abandonado ou de não ser aceite.

Muitos homens sobreviventes carregam consigo sentimentos de culpa, vergonha e autodesvalorização que os fazem acreditar que não merecem ser felizes ou que nunca ninguém os irá amar por inteiro. Isto pode levar o sobrevivente a anular-se nas suas relações, a adotar uma postura de maior passividade ou a envolver-se em relacionamentos superficiais, abusivos, tóxicos ou destrutivos.

Em algumas situações, o sobrevivente pode evitar relações íntimas ou ter a necessidade de esconder os seus verdadeiros pensamentos e emoções, fazendo-o sentir que ninguém o conhece verdadeiramente, que é uma fraude ou um impostor. Estes receios podem fazer com que o homem acredite que nunca será possível estabelecer relações seguras e gratificantes, o que gera sentimentos de fracasso, solidão e ansiedade.

Com a aproximação de dias comemorativos como o de São Valentim, estes pensamentos podem acentuar-se, intensificando emoções negativas como raiva, culpa, vergonha ou tristeza. Também as memórias e pensamentos intrusivos acerca do abuso podem ficar mais presentes, o que aumenta o estado de alerta e causa dificuldades no sono e na concentração.

É importante compreender o impacto do trauma, tal como desconstruir crenças que potenciam mal-estar, e como estas são um obstáculo para que o sobrevivente construa relações nas quais se sinta confortável e valorizado. Se em algum momento se identifica com estes sentimentos e dificuldades, procure apoio. A Quebrar o Silêncio está disponível para recebê-lo através da Linha de Apoio 910 846 589 ou do email apoio@quebrarosilencio.pt.