Trauma – dano resultante de um acontecimento disruptivo e emocionalmente avassalador na vida de quem o experiencia. Pressupõe um grande nível de sofrimento, físico e/ou emocional.
É de trauma que falamos quando abordamos violência sexual. Um evento, disruptivo, gerador de grande sofrimento, e com consequências que acompanham o sobrevivente ao longo da sua vida. Uma situação traumática, aumenta significativamente os níveis de stress de quem a experiencia, e leva-o a moldar a sua percepção sobre o mundo a partir desse momento, o que pode contribuir para interpretá-lo como inseguro e perigoso. Para se sentir preparado para o perigo que o rodeia, é comum que os sobreviventes de violência sexualdesenvolvam e assumam uma postura hipervigilante, de alerta permanente, mesmo quando não parece haver motivos para isso. Esta ativação constante resulta num grande desgaste energético e num cansaço emocional e físico elevados.
Uma vez que o evento é gerador de tanto sofrimento, é natural que o sobrevivente desenvolva estratégias para evitar o que quer que o recorde dele. Este conflito constante entre a recordação do trauma e o seu evitamento, aumenta significativamente os níveis de ansiedade e tem um impacto negativo no seu estado emocional.
Numa tentativa de gerir e lidar com o que está a sentir, o sobrevivente tende a fugir destas emoções negativas, recorrendo, por vezes, a estratégias disruptivas, como o consumo de álcool e outras drogas, a dedicação exagerada ao trabalho ou ao exercício físico e a necessidade de estar sempre em controlo. Por outro lado, esta fuga pode materializar-se através de comportamentos impulsivos e resultar na dificuldade em manter um emprego, uma relação estável e duradoura ou em estabelecer relações de confiança e proximidade.
Fight, Flight, Freeze e violência sexual
Numa situação de perigo, presente em qualquer ato violento, o nosso cérebro reage automaticamente, com o propósito de nos proteger. Ao fazê-lo, existem três respostas possíveis:
- fight – reação de luta para com o estímulo perigoso
- flight – reação de fuga perante o perigo
- freeze – reação de paralisação perante a situação perigosa
Apesar destas reações serem naturais e automáticas, quando são retiradas do contexto, podem gerar sentimentos de culpa e de desvalorização na própria vítima. Por exemplo, se um sobrevivente de violência sexual não fugir da situação de perigo ou não reagir agressivamente, paralisando como resposta ao evento perigoso (freeze), pode ser interpretado como permissão ou consentimento do abuso de que foi vítima. Esta responsabilização e culpabilização errada da vítima promove o seu silêncio e dificulta o pedido de ajuda.
É importante referir que não existe um guião que dite a forma como as vítimas reagem a uma situação de violência sexual. Uma vítima que não resista a uma situação de violação não é menos vítima do que alguém que tente resistir ou fugir – esta é apenas uma das possíveis formas de reação a uma situação traumática.
Partilhamos este vídeo “Trauma and The brain” que ilustra a forma como uma experiência traumática afeta o cérebro e como este gere o evento em questão.
Se foi vítima de violência sexual e precisa de apoio, contacte-nos através do email apoio@quebrarosilencio.pt ou da nossa linha de apoio 910 846 589.