Decidi procurar a associação Quebrar o Silêncio em setembro de 2020, as razões que me levaram a fazê-lo eram porque estava num estado de confusão de stress pós traumático. Sentia que a minha mente era confusa, cheia de dúvidas e não percebia porquê.
Não sabia distinguir abuso de sexo. Apesar de sentir que a minha sexualidade era heterossexual, e nunca o tinha posto em causa, tinha associações relacionadas com o abuso em criança e não percebia o porquê. Houve uma situação no abuso que me fez criar prazer e muitas vezes pensava “mas será que sou bissexual, homossexual e estou a ser preconceituoso?” Por outro lado, nunca fui preconceituoso com pessoas com outras orientações sexuais, e às vezes dizia, mas eu nunca abri a boca para criticar um homossexual como poderei ser preconceituoso? Sentia que às vezes parecia que queria experimentar ter relações homossexuais para ver se era mesmo aquela opção, mas depois caía em mim e pensava “mas isto não sou eu”, é apenas e só confusão. Outras pessoas, não especialistas, diziam-me “mas aceita isso”. E eu pensava, mas aceitar o quê?! Não há nada para aceitar. E isto ainda aumentava mais o meu estado de confusão. Parecia que era eu que tinha tendências e que não estava a assumi-las. Independentemente de tudo o resto eu sentia que aquilo não era eu, era uma coisa que não me pertencia, como água e azeite. Tive e ainda tenho gravado o toque do prazer e é isso que por vezes me fazia confusão, mesmo apesar de sentir que nada tinha a ver comigo. Este é o fundo da questão. Por vezes sentia atração por pessoas, no ginásio ou por clientes e não percebia o porquê, mas não era uma atracção como era com as mulheres, é como se fosse algo que não fosse eu, era outra pessoa. Estranho. Este era o meu estado de confusão psicológica antes de iniciar o processo com a associação.
O meu processo de recuperação foi gradual. À medida que as consultas foram acontecendo fomos desconstruído varias ideias sobre o que é sexo e abuso, o que são as associações que pareciam atracções, mas que depois não eram. Percebi que o prazer que senti em criança com 6/7 anos trata-se de reacções fisiológicas, nada tem haver com o prazer sexual, para ter sido sexo e haver atracção teria que ter sido algo desejado, consentido, como é com uma mulher. E estas ideias foram sendo desconstruídas, e percebi que a minha orientação sexual é, como alias já sabia, heterossexual, simplesmente o que tinha era stress pós traumático pós abuso. Tratava-se de um problema psicológico que precisava de ser tratado. Em mim, só de pensar em tocar num homem com intenções sexuais dava-me nojo.
Hoje sinto-me bem. Tenho ainda a sensação de prazer em mim. No entanto, tenho o conhecimento e as ferramentas para lidar com a situação. Estou autoconfiante na minha sexualidade, feliz por tudo ter acabado bem. E muito do problema que havia em mim era falta de autoconfiança que criava isso.
E estou sobretudo grato à Associação pelo trabalho que fez comigo. Digno de uma Taça da Liga dos Campeões, a Bota de Ouro e a Bola de Ouro entregue às pessoas que me ajudaram neste processo. Nunca vos vou esquecer.