P. – 55 anos


Acreditei por muitos anos que o abuso sexual que sofri na infância não afetaria a minha vida adulta e que conseguiria sozinho resolver as consequências advindas desse acontecimento. Na verdade, essa suposição baseava-se no temor de contar a terceiros  o que o havia acontecido comigo e por acreditar que era psicologicamente forte e que resolveria meus traumas de forma autónoma. 

Trinta e tantos anos passaram-se e guardei muito bem esse facto, que ora tornava-se pesado demais e sem solução aparente, parecendo como se o mesmo tivesse acontecido com outra pessoa e não a mim próprio. Desconectei os problemas da minha vida adulta com o facto do abuso por muito tempo. Entretanto, percebi que a síndrome do pânico, a falta de auto estima, o desalento e uma dependência excessiva de sexo tornaram-se problemas que não mais poderiam ser acobertados e resolvi enfrentá-los. 

Com a terapia efectuada com a Dr.ª Cláudia percebi que os problemas da vida adulta eram senão totalmente reflexos do abuso que sofri e estavam de alguma forma a ele atrelados. Falar do abuso e desmistificar alguns dos mitos fez perceber que fui e sou um sobrevivente. Nenhuma criança, em seu processo de amadurecimento, pode lidar com tantas emoções sem efeitos adversos. Para mim o mais impressionante foi perceber que, apesar de me considerar uma pessoa inteligente, usei subterfúgios emocionais para não olhar o meu passado. Aceitar o que aconteceu e seguir em frente foi o melhor que aconteceu no percurso terapêutico.