J – 38 anos


Sou um desconhecido para vocês. Não me conhecem o rosto. Podem ou não ter passado pelo que passei. Mas estão a ler isto, pelo que julgo que vos aconteceu algo — algo com o qual se estão a debater.

Há uma expressão que diz “reconhecer o problema é meio caminho andado para o resolver”, mas isto não se aplica a nós, nem àquilo por que passámos. Não basta divulgar as nossas verdades e contar as nossas histórias. Isto é o princípio da vossa viagem, a viagem até vós próprios. É uma viagem de cura e aceitação, uma que exigirá muita força.

Quando contei a alguém pela primeira vez o que me aconteceu, tinham passado 18 anos depois de o meu irmão me ter violado pela última vez. Mas a cura começara três anos antes. Eu não entendia, não sabia, tinha negado a verdade a mim mesmo. Mas os acontecimentos voltaram para me assombrar e não podia ignorá-los mais. Tinha de lidar com eles. Tinha de enfrentar o que me aconteceu. Tinha de o admitir a mim próprio em primeiro lugar, mas as palavras não vinham e os sentimentos não se manifestavam. Estava entorpecido.

Depois de pedir ajuda, depois de participar nos grupos de apoio e de fazer psicoterapia, percebi que não estava sozinho. Você não está sozinho. Você está prestes a embarcar numa corajosa viagem de altos e baixos, e tal como eu consegui, você também conseguirá chegar a bom porto. Conseguiu chegar até aqui. E como um amigo me disse uma vez, “és mais forte do que pensas.” Você também é.