Vir à Quebrar o Silêncio foi uma decisão muito difícil que tomei. A própria tomada de decisão de entrar em contacto com a Associação foi um processo – assumir que havia uma questão para resolver, assumir que precisava de ajuda, combater as desculpas que arranjava para mim próprio, combater o estereótipo, a vergonha, o medo.
Apesar de ter sido difícil, foi uma decisão que mudou a minha vida para muito melhor!
Marquei a primeira sessão com o Ângelo, honestamente, com pouca segurança de que efetivamente ia comparecer. Foram precisas todas as forças que tinha para realmente aparecer – e mesmo nessa altura, na minha cabeça, estava a ser tonto porque sentia que estava tudo bem, mesmo sabendo que não estava.
Quando saí da primeira sessão, sem sequer ter havido grandes conversas sobre algo em concreto, senti-me muito melhor, mais leve, como se um peso enorme me tivesse saído dos ombros. Fizeram-me sentir confortável e acompanhado e isso, uma coisa tão simples, mudou-me e ajudou-me tanto.
Tinha começado o meu processo, um processo difícil, mas importante.
Nas sessões com a psicóloga, a Dra. Cláudia Caires, o ambiente é de calma e segurança. Aquela sala é um espaço onde me senti muito seguro, mesmo a falar de coisas que nunca tinha detalhado com ninguém. Senti-me sempre em controlo do processo, que o caminho a percorrer era meu e tudo foi altamente gratificante.
Não posso dizer que foi fácil. Antes pelo contrário. Todo o caminho foi difícil e complexo. Dias houve em que saí das sessões bem e calmo, outros dias saí a chorar e a sentir-me a pior pessoa do mundo. Mas no fim, tudo se organizava, tudo acalmava e ia sendo processado. E quando tudo acalmava, era como se mais uma parte de mim tivesse melhorado e ficado mais forte.
Hoje começo a ter “a casa arrumada”. Tenho as ferramentas necessárias para lidar com o que me aconteceu no passado e para processar emocionalmente os eventos “normais” da vida com que tinha dificuldades em lidar por traumas do passado.
A Quebrar o Silêncio mudou verdadeiramente a minha vida. Hoje sou um homem completamente diferente do que era quando entrei pela primeira vez em contacto com a Associação. Sinto-me uma pessoa melhor e mais em paz. Fiz as pazes com o meu passado e comigo próprio e estou confiante no meu futuro, com esperança e fé renovadas.
O processo não acabou quando acabei as minhas sessões. O processo continua, por mim, todos os dias. Mas agora tenho as ferramentas para o poder continuar sozinho, sabendo que se precisar, a Quebrar o Silêncio está sempre para me ajudar. E hoje sei que estou bem.
Carregar um fardo de violência sexual é algo pesadíssimo. Sentir no mais íntimo de quem somos que não precisamos de ajuda, que somos homens e não sofremos este tipo de violência, que temos de ser fortes, que homem que é homem aguenta – tudo isso é pesadíssimo. Mas tudo isto é um mito gigante e na Quebrar o Silêncio há pessoas prontas para nos apoiar e para nos retirar este fardo de cima. Não estamos sozinhos, nunca estivemos sozinhos, mesmo quando nos sentimos o mais sozinhos.
Obrigado à Quebrar o Silêncio e um abraço grande a todos.
Não estamos sozinhos.