Eu sempre desvalorizei a minha história de abuso porque nunca achei que fosse algo muito traumático. E quando comecei ir aos grupos de apoio fui sempre muito cético porque não acreditava que o que me tinha acontecido era realmente abuso.
Quando comecei a ouvir as histórias dos outros homens e os casos de violação, quis ir-me embora porque eu não tinha sido violado, eu tinha sido “apenas” abusado sexualmente pelo meu irmão e achava que não merecia estar naquela sala. Pensava que era um intruso e que um dia iam perceber que eu não merecia estar ali junto dos outros homens.
Mas aos poucos fui vendo que, apesar das diferentes histórias, a forma como cada um sofria e as coisas por que passámos eram todas muito parecidas. As questões de vergonha e da culpa que todos sentíamos eram demasiado semelhantes para que o meu abuso não fosse um abuso real.
Foi através do grupo de apoio que comecei a compreender o que realmente me aconteceu e o impacto que isso teve na minha vida. Aos poucos, a minha postura mudou muito. Passei de “eu não mereço estar aqui porque o abuso não me afetou assim tanto” para reconhecer que o que o meu irmão me fez foi errado. Consegui ultrapassar a vergonha e a culpa que sentia, mas que nunca quis mostrar aos outros que sentia.