D. – 35 anos


Tive uma infância inocente maculada por uma maldade que não era minha. Tive uma adolescência confusa, tentando superar todas as expectativas para “compensar” de alguma forma a culpa que eu carregava como um peso diário, que me fazia curvar perante qualquer fracasso. Tornei-me num adulto que precisava controlar todas as situações para compensar o que eu não pude controlar.

Sim, eu não pude controlar os abusos que sofri e seus efeitos ao longo do meu desenvolvimento. E, após 30 anos, meus mecanismos de defesa não me defendiam mais. A vergonha, a culpa, o medo, os enjoos, as dúvidas… estavam a matar-me, prejudicando os meus relacionamentos mais preciosos. Foi quando falei pela primeira vez a um amigo de confiança que teve empatia. Mas, eu precisava de algo além. Então, encontrei a associação Quebrar o Silêncio pela internet e li todo o conteúdo do site numa noite, atónito a identificação imediata de sentimentos nos testemunhos lidos. Sem hesitar, enviei um pequeno desabafo em forma de e-mail. E, que bom que eu fiz isso.

Desde a resposta do Ângelo até a primeira consulta com a Dra. Filipa, senti-me amparado, acolhido, compreendido. Aos poucos minhas defesas foram rompidas e as inseguranças desvanecidas. Encontrei na terapia um espaço semanal de autoconhecimento, um caminho necessário de compreensão, um encontro com a redenção de um menino de seis anos, inteligente, criativo e inocente a quem eu culpei injustamente, a quem eu escondi fortemente, mas que agora está ao meu lado vivo e que me ajuda a ressignificar a minha vida. 

Durante essa jornada inevitavelmente revivi lembranças dolorosas, algumas reprimidas, mas que foram observadas pelo prisma correto e me fizeram entender os porquês de sentimentos, traços e atos autodestrutivos. Aprendi estratégias e encontrei ferramentas que me permitem aprimorar meu comportamento, meu interior e a forma como me relaciono.

Além disso, perceber que não sou o único, e encontrar no grupo rapazes de diferentes partes e formações que compartilham da mesma dor, das mesmas dúvidas… gerou em mim um sentido de pertença e de equidade. Eu não estou sozinho. Eu não sou mau. Eu sou normal.

Por isso, se você sente dúvidas, culpa, vergonha, medo… e tantas outras reações negativas, advindas de abusos na sua infância ou adolescência não hesite em confiar no profissionalismo desta equipa. Será uma jornada rumo à estabilidade ao seu tempo, sem pressão.

Concluo com este simples verso:

“Obrigado a quem confia e confiando abre espaço para amar
Obrigado a quem acolhe e acolhendo abriga quem não pode ser protegido
Obrigado a quem compartilha e compartilhando abre espaço para voar
Obrigado a quem não desiste e persistindo chegou até aqui escondido
Obrigado ao menino que eu fui e ainda sendo me permite vivenciar
Que confiando, acolhendo, compartilhando e persistindo 
Todos os meninos que não foram protegidos ainda podem acreditar
Que não precisam mais se esconder, apenas encontrar suas asas e voar”