A decisão de contactar a “Quebrar o Silêncio” em janeiro de 2017 foi definitivamente uma das mais importantes da minha vida, desde então, passei a olhar de uma forma mais positiva para mim e para a minha vida em particular, bem como para o mundo exterior em geral.
Ter frequentado o grupo de ajuda mútua permitiu que me identificasse com outros homens que passaram pelo mesmo que eu e, progressivamente ao longo das sessões, fui sentido que este “fardo” que carreguei ao longo da minha adolescência e início da vida adulta foi ficando cada vez mais leve. Posteriormente e com o início do acompanhamento psicológico, passei a desenvolver a capacidade de conhecer, controlar e modificar os meus próprios pensamentos e emoções para assim poder definir autonomamente as minhas motivações, os meus comportamentos e os meus próprios valores.
Aprendi, assim, que o evitamento não é a solução para os problemas e que é possível deixar de sentir-me tão tímido, culpado e ansioso no contacto com os outros. Agora com 30 anos posso finalmente sentir que tenho um futuro mais otimista, desafiante e feliz, ao invés de um mar de receios infundados que não me permitia ver as minhas próprias qualidades. Após este período de frequência da Associação consigo reconhecer que sou autossuficiente e que posso viver sozinho, que já não preciso tanto do álcool para me desinibir socialmente, que sou atraente fisicamente, que as pessoas gostam de estar comigo, que sou merecedor de carinho e atenção, que tenho amigos que estarão sempre ali para mim, que já consigo aproximar-me da minha família, que já consigo desinibir-me sexualmente, que já sei viver melhor com a minha própria orientação sexual, que posso apaixonar-me espontaneamente e autenticamente por outro rapaz que me faça sentir bem, que já consigo expressar melhor as minhas emoções, que já não tenho vergonha de dar a minha opinião, que sou um bom profissional, que consigo desenvolver a minha componente artística, que estou novamente apto para fazer desporto, que consigo tomar decisões a pensar primeiramente em mim e que sei gerir conflitos quando eles existirem. Posso dizer que me tornei um homem mais resiliente e despreocupado, bem como que consigo ser um amigo, namorado, filho, irmão, colega, trabalhador e cidadão mais dedicado e presente à minha própria maneira.
Escrevo este testemunho como forma de fechar este ciclo e agradecer o apoio que recebi ao longo deste processo de libertação, manifestando a minha disponibilidade para ajudar no que for preciso. Obrigado por me terem ensinado a gostar de mim e ajudado a perceber que, no dia de hoje, a experiência de abuso pelo qual eu passei já não define mais aquilo que sou.